FEUDOS DA SAÚDE
Entidades filantrópicas de saúde do
Brasil estão se mobilizando para reivindicar a adoção de critérios técnicos
para a distribuição de recursos financeiros federais entre os hospitais que
prestam serviços ambulatoriais e hospitalares ao Sistema Único de Saúde (SU). A
base dessa discussão parte da aplicação dos valores previstos na Tabela de
Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do Sistema
Único de Saúde (SUS), para renumeração dos serviços que lhe são prestados.
O assunto foi tema de reunião
virtual promovida pela da Confederação das Santas Casas de Misericórdia,
Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), na última segunda-feira, 19. No
encontro virtual, o provedor da Santa Casa de Maceió e profundo conhecedor do
assunto, Dr. Humberto Gomes de Melo, apresentou um levantamento apontando a
disparidade dos repasses a alguns hospitais, em relação ao seu volume de produção
SUS.
Em 2020, 33 hospitais
universitários públicos federais analisados, por exemplo, foram contemplados
com R$ 15 bilhões em verbas federais, contra uma produção SUS, no mesmo período,
de apenas R$ 1,06 bilhão, calculados pela aplicação da Tabela. Enquanto isso,
13 hospitais filantrópicos produziram para o SUS o mesmo valor, percebendo 36%
da cifra milionária repassada aos universitários. Os hospitais universitários
federais receberam, no geral, em média, o equivalente a 14,14 vezes o valor da
sua produção pela Tabela SUS, contra 4,96 vezes dos hospitais beneficentes e
2,17 vezes os filantrópicos.
Mas, o destaque na apresentação
de Melo, foram as disparidades dos valores repassados a três grandes grupos
hospitalares. Em 2020, os hospitais do Grupo Conceição, da Rede Sarah e os
Federais do Rio de Janeiro receberam de verba federal quase R$ 3,9 bi, contra
R$ 293 milhões de produção SUS. A média é de 13,26 vezes o valor da produção
SUS, sendo que as unidades do Grupo Conceição receberam 25,13 vezes mais que o
previsto na Tabela SUS.
Diante desses números, soltos
quando comparados, a CMB tem pleiteado ao Ministério da Saúde a adoção de
critérios técnicos para distribuição dos recursos federais entre os hospitais
do país, considerada a efetiva produção SUS. Conforme o presidente da
Confederação, Mirócles Veras, o Ministério se comprometeu em analisar o
assunto. “A ausência de critérios técnicos para remuneração das entidades que
atendem pelo SUS é revoltante. Fomos ao Ministério e eles ficaram de nomear uma
comissão para analisar a sustentabilidade das nossas instituições, pois somos
nós que fazemos a maior parte do SUS”.