ALERTA PARA CÂNCER COLORRETAL

A morte da cantora Preta Gil, aos 50 anos, por complicações de um câncer colorretal, acendeu um alerta para o avanço dessa doença entre adultos jovens. O câncer que atinge o cólon (intestino grosso) e o reto, antes mais comum em pessoas acima dos 60 anos, tem apresentado aumento preocupante em pacientes com menos de 50. Nos Estados Unidos, os casos dobraram nas últimas três décadas nessa faixa etária, e os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam tendência semelhante no Brasil.
“O câncer colorretal costuma ser
silencioso nas fases iniciais. É justamente por isso que o diagnóstico precoce
salva vidas”, explica o médico André Carvalho, oncologista cirúrgico do
Hospital Amaral Carvalho (HAC), referência nacional no tratamento de câncer. “A
boa notícia é que, quando identificado no início, as chances de cura superam
90%.”
Segundo o INCA, o câncer
colorretal é o terceiro mais comum no país, com mais de 45 mil novos casos por
ano. Apesar disso, ainda não existe um programa nacional de rastreamento ativo
pelo SUS, como ocorre com o câncer de mama ou do colo do útero. “Esse tipo de
prevenção é essencial para interromper o avanço da doença. A recomendação é que
pessoas a partir dos 45 anos façam exames de triagem regularmente, mesmo sem
sintomas”, afirma o especialista.
O rastreamento pode começar com
um simples teste de sangue oculto nas fezes, feito anualmente. Em caso de
alterações, o paciente é encaminhado para colonoscopia, exame que permite
observar o interior do intestino e remover lesões suspeitas antes mesmo que se
tornem um câncer.
Por que os jovens estão
adoecendo?
Para o oncologista Paulo Hoff,
diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), o aumento de
casos em pessoas mais jovens já é uma realidade. “Em 2019, publicamos um
trabalho em que mostramos claramente um aumento substancial na chegada de pacientes
mais jovens com câncer colorretal. Num período de 10 anos, essa elevação foi de
cerca de 15%. Mas é muito provável que esse número esteja subestimado.”
Segundo ele, é cada vez mais
comum ver pessoas com 35 ou 40 anos chegando ao consultório com o diagnóstico
da doença. “Esse cenário preocupa, pois o impacto do câncer colorretal numa
pessoa jovem é muito grande. Estamos falando de indivíduos que estão na idade
de se estabilizar no emprego, de casar, de ter o primeiro filho. Uma série de
sonhos que ainda não foram realizados.”
A ciência ainda não tem respostas
definitivas para explicar o fenômeno, mas os especialistas apontam para
mudanças profundas no estilo de vida. “Saímos de uma sociedade rural e passamos
a viver em grandes centros urbanos, com uma rotina cada vez mais sedentária e
uma alimentação baseada em produtos ultraprocessados, com pouca presença de
alimentos naturais”, explica Hoff. “Se essa hipótese se confirmar, o quadro é
preocupante. Esses alimentos viraram a base da dieta moderna, inclusive da
merenda escolar.”
O oncologista do Hospital Amaral
Carvalho, André Carvalho, reforça que o sobrepeso e a obesidade são fatores
fortemente associados ao câncer colorretal. “O excesso de gordura provoca
inflamação crônica no organismo, criando um ambiente propício para o desenvolvimento
de tumores”, afirma. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos, tanto em
tratamentos médicos quanto na produção animal, também é apontado como um
possível fator de risco.
Diagnóstico, tratamento e
esperança
O tratamento do câncer colorretal
pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia e, em alguns casos,
imunoterapia. “Quanto antes o paciente chega, menos invasivo é o tratamento e
maior a chance de cura”, ressalta André Carvalho.
No Hospital Amaral Carvalho,
referência nacional em oncologia, a estrutura para diagnóstico e tratamento
desse tipo de câncer inclui equipe multidisciplinar, acolhimento humanizado e
acompanhamento contínuo. “Mais de 70% dos casos que recebemos chegam em estágio
avançado. Precisamos mudar isso com mais informação, acesso e políticas
públicas de rastreamento”, defende o médico.
Apesar da gravidade da doença, os avanços na medicina trazem esperança. Quando diagnosticado precocemente, o câncer colorretal tem cura. E tudo começa com uma atitude simples: cuidar da própria saúde e buscar acompanhamento médico mesmo sem sintomas.
Foto: Divulgação