ZIKA VÍRUS: DEZ ANOS DEPOIS

Nesta
segunda-feira, 28 de abril, completa-se uma década desde que o vírus zika foi
identificado no Brasil, desencadeando uma crise de saúde pública. À época, mais
de 3 mil mulheres contaminadas pela doença, transmitida pelo mosquito Aedes
aegypti, deram à luz bebês com Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZ), que tem
como uma das principais características a microcefalia. Passados dez anos,
milhares de famílias ainda convivem com as graves consequências da epidemia e
com o abandono do poder público.
A
senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) lidera uma mobilização no Congresso para
derrubar o veto presidencial ao Projeto de Lei nº 6.064/2023, de sua autoria,
que prevê pensão vitalícia para pessoas com deficiência permanente causada pelo
vírus e indenização de R$ 50 mil às famílias afetadas.
A
proposta foi aprovada por unanimidade na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal em 2024, mas vetada integralmente pelo presidente Lula. Em seu lugar, o
governo editou uma medida provisória que prevê apenas uma indenização de R$ 60
mil, sem a pensão vitalícia.
"Esse
veto não é apenas um erro político. É um tapa na cara de milhares de famílias
que foram abandonadas pelo Estado no passado e agora têm seus direitos negados
mais uma vez. A reparação que aprovamos no Congresso não é um favor. É um dever
do Brasil com essas crianças e suas famílias", afirma a senadora.
Segundo
associações de familiares, cerca de 1.589 crianças vivem atualmente com
sequelas graves da infecção pelo vírus zika. No auge da epidemia, esse número
ultrapassava 3 mil casos. Hoje, mais da metade dessas crianças já morreu em
decorrência das graves complicações de saúde. "São vidas perdidas por
falta de apoio. Essas mães foram abandonadas há dez anos e continuam
abandonadas hoje", lamenta Mara.
Essas
famílias enfrentam despesas permanentes com terapias, alimentação diferenciada,
medicamentos, equipamentos e cuidados especializados.
A
proposta foi construída com respaldo técnico e jurídico. Parecer da Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado estimou em R$ 91,4 milhões o custo total com
indenizações e uma despesa anual de R$ 185 milhões com as pensões, com base em
estudo da Consultoria de Orçamento do Congresso. A senadora critica a
justificativa do governo de falta de fonte de custeio para a pensão.
"O
governo participou das negociações, propôs emendas que foram integralmente
acolhidas. Não pode agora alegar ausência de previsão orçamentária como
desculpa para o veto. Estamos falando de cerca de 1.500 crianças. É um número
pequeno dentro do orçamento federal. O governo tem dinheiro, mas escolhe onde
gastar e recua quando se trata de justiça social", destaca Mara Gabrilli.
Para a
senadora, a derrubada do veto representa não apenas uma resposta institucional,
mas uma reparação histórica às famílias que enfrentam há uma década o abandono
do poder público.
"A
epidemia do zika não foi um fenômeno natural. Foi uma tragédia anunciada, fruto
da negligência do Estado com o saneamento básico e o controle de vetores, como
o mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus zika e da dengue. Essa pensão é
o mínimo para oferecer dignidade a essas famílias", finaliza.
A
sessão do Congresso para análise dos vetos está prevista para o dia 25 de maio.
Foto:
Geraldo Magela/Agência Senado