CRISE AGRAVADA
A crise financeira enfrentada, há anos, pelos hospitais filantrópicos e Santas Casas se agravou desde o final da pandemia. A inflação, o aumento do preço dos insumos e medicamentos, o novo piso da enfermagem e o antigo problema da defasagem da tabela SUS levaram o Hospital Oncológico A. C. Camargo, da capital paulista, a decidir não renovar o convênio de atendimento SUS, com a Secretaria Municipal de Saúde, a partir de 9 de dezembro. Outras entidades também pretendem abandonar o Sistema Único.
Para o
especialista em administração hospitalar, José Luiz Spigolon, que já foi
superintendente na Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades
Filantrópicas (CMB), apesar de serem sem fins lucrativos, os hospitais
filantrópicos são instituições privadas, que exigem esse tipo de decisão de
seus administradores. “Quem assume a direção de uma instituição tem que ter a
necessária compreensão do equilíbrio econômico/financeiro necessário ao
negócio. Deixando de atender o SUS, ele vai perder o benefício da filantropia,
que é a isenção da cota patronal, mas é muito mais vantajoso pagar os 27,8%
sobre a folha de pagamento, do que continuar tendo o prejuízo que o SUS impõe”,
frisou.
Na
última semana, o presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais
Beneficentes do Estado de São Paulo, Edson Rogatti, afirmou que teme um colapso
na área da saúde e no atendimento SUS, nos próximos meses, por falta de
recursos. “Pelo menos 20 hospitais já demonstraram interesse em reduzir o
atendimento. Entre elas, as Santas Casas de Marília, Franca e a da capital. Em
todo o Estado há 409 unidades”, lamentou.
Na
região metropolitana, as prefeituras de Osasco, Guarulhos, Santo André e Mauá
relataram dificuldades para manter o atendimento da população, por conta da
defasagem da tabela SUS. O valor dos procedimentos não é reajustado há 15 anos,
segundo a Secretaria Estadual da Saúde.
O problema
atinge hospitais no interior do Estado. Em abril deste ano, o Hospital de
Esperança, em Presidente Prudente, também referência no atendimento a pacientes
com câncer, anunciou um déficit mensal de R$ 2 milhões e a demissão de 180
trabalhadores.
Segundo
o Governo do Estado, R$ 1 bilhão é destinado para complementar o custo de
procedimentos pagos pela tabela SUS, um recurso que, segundo a administração
estadual, faz falta para ampliar o atendimento à população.
Em
alguns municípios, o Ministério Público tentou intervir na decisão das
filantrópicas que decidiram encerrar o atendimento pelo SUS. “Muito embora,
alguns responsáveis pelo Ministério Público pelo Brasil afora já tenham
recomendado a prisão de provedores e presidentes de Santas Casas, por estarem
saindo do SUS, não há obrigação legal que obrigue a Instituição a continuar
prestando o serviço. Não é papel do hospital filantrópico financiar o SUS ou a
saúde pública. A legislação sobre a relação entre o privado e o público, prevê
que é proibido a Poder Público, em todas as suas esferas, causar prejuízo ao
particular”, finaliza Spigolon.
Outro
problema que agravou a crise das filantrópicas foi a aprovação do piso nacional
da enfermagem. Enquanto o Supremo Tribunal Federal analisa uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade que pede a revogação da lei que criou o piso, os hospitais
se mobilizam para mostrar os impactos orçamentários que devem inviabilizar o
atendimento à população. “Na lista estão as 1.824 Santas Casas de Misericórdia,
Hospitais e Entidades Filantrópicas, que precisarão de mais R$ 6 bilhões para bancar
o aumento da folha salarial”, explica o presidente da Confederação das Santas
Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas, Mirócles Veras.