MÃES ATÍPICAS

Os desafios mulheres que dedicam suas vidas ao cuidado de filhos com deficiências ou transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, foram abordados pela Deputada Estadual Andréa Werner (PSB-SP), durante evento sobre o Dia Mundial das Doenças Raras 2025, na Câmara Municipal de São Paulo, nesta segunda-feira (10/3). Ela ressaltou as dificuldades enfrentadas por essas mães, que incluem abandono por parte dos companheiros, sobrecarga física e emocional e falta de suporte governamental adequado.
"A gente teve o Dia
Internacional da Mulher e eu fico pensando que ainda é um dia de luta por
tantos motivos. Ninguém aguenta mais ouvir falar de feminicídio e nós, mães
atípicas, não aguentamos mais ouvir falar de suicídio no nosso meio. Em um mês,
vieram duas notícias de mães que atentaram contra a vida dos filhos e depois
tentaram tirar a própria vida em cidades diferentes. E quem é desse meio sabe
que isso é muito frequente, justamente por esse motivo de que praticamente 80%
dessas mulheres são abandonadas. A gente diz que o diagnóstico entra pela
porta, o marido sai pela janela normalmente. E a mulher tem que se virar para
sustentar e cuidar daquela criança", afirmou a deputada.
Uma pesquisa apresentada em 2012
pelo Instituto Baresi revelou que quase 80% dos pais abandonam as mães de
crianças com deficiência ou doenças raras antes dos cinco anos de idade. Esse
abandono coloca sobre essas mulheres toda a responsabilidade pelo sustento e
cuidado dos filhos, gerando um ciclo de sobrecarga física, emocional e
financeira. Além disso, muitas dessas mães precisam lidar com a solidão e o
preconceito, sem uma rede de suporte adequada para auxiliá-las no cotidiano.
Outro ponto levantado por Andréa
Werner foi a vulnerabilidade dessas mulheres na velhice. "Muitas vezes,
essas mães estão idosas, perdem o filho e perdem o Benefício de Prestação
Continuada (BPC). E aí vão morar na rua. O que o Estado dá de presente para
essa mulher que dedicou uma vida inteira ao cuidado é ir morar na rua depois
que o filho falece", denunciou.
Em 2024, a própria deputada, que
é mãe de um filho autista, processou o Estado de São Paulo devido à falta de
adaptação escolar para seu filho. "Depois de meses tentando dialogar, meu
filho está fora da escola porque todas as adaptações essenciais pra ele foram
negadas. O que eles dizem? 'Vamos avaliar'. O que eles ignoram? Todo o material
que a escola municipal deu, os documentos, as recomendações, as orientações dos
professores. Parece que 'ignorar o saber do professor' tá liberado quando é pra
negar adaptação e direitos. Meses de diálogo não resolveram. Partimos pra
ação."
A deputada também criticou o
preconceito enfrentado pelas mães atípicas. "Eu fico muito brava quando
dizem que mãe atípica é barraqueira. Porque eu falo que a gente não tem outra
opção. Nada cai no nosso colo", enfatizou.
Para enfrentar essa realidade, a
deputada tem apresentado diversos Projetos de Lei na Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo voltados às pessoas com deficiência e seus cuidadores,
incluindo as próprias mães. Entre as principais iniciativas estão:
·
PL 414/23: Cria a
Renda Paulista para mães e cuidadoras de pessoas com deficiência.
·
PL 515/23: Propõe
a criação de delegacias especializadas para pessoas com deficiência em cidades
com mais de 300 mil habitantes.
·
PL 863/23:
Estabelece prioridade para cuidadores de pessoas com deficiência em serviços de
saúde públicos.
·
PL 1000/23: Obriga
que escolas utilizem sinais sonoros com tipos e volumes adequados.
·
PL 1249/23: Garante
transporte intermunicipal gratuito a pessoas com deficiência.
·
PL 1672/23: Cria
uma incubadora pública para empreendimentos destinados a pessoas com
deficiência.
·
PL 1486/23: Limita
o número de alunos em salas de aula – 20 no Ensino Fundamental I e II e 25 no
Ensino Médio.
·
PL 1485/23:
Institui o programa Diagnóstico Acessível Paulista para Transtorno do Espectro
Autista (TEA).
·
PL 1400/23: Obriga
o Estado a priorizar profissionais com formação em educação especial para apoio
escolar.
·
PL 1566/23: Cria
uma incubadora pública para empreendimentos destinados a cuidadoras de pessoas
com deficiência.
Foto: Fotos: Rodrigo Romeo