FIM DO SUS?
Existem, no Brasil, cerca de 2,4 milhões de profissionais
registrados no Conselho Nacional de Enfermagem. São cerca de 433 mil
auxiliares, 1,4 milhão de técnicos, 612 mil enfermeiros e 323 obstetrizes
(parteiras). Profissionais fundamentais para o Sistema de Saúde, público e
privado, ainda mais nestes tempos de pandemia, em que muitos pagaram com a
própria vida para atender à população.
Mas
a vontade de valorizar o trabalho da categoria, como prevê o Projeto de Lei 2564/2020,
em tramitação no Senado Federal, poderá simplesmente implodir o Sistema Único
de Saúde. A proposta, que já conta com parecer favorável, estabelece piso
salarial de R$ 7.315,00 para enfermeiros, R$ 5.120,50 para técnicos de
enfermagem e de R$ 3.657,50 para auxiliares de enfermagem.
Conforme
levantamento de Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o impacto anual do
Projeto, caso aprovado, será de quase R$ 50 bilhões, considerando apenas a
folha salarial dos 781.415 profissionais de enfermagem municipais ou de hospitais
sem fins lucrativos, vinculados a rede municipal em atendimento ao SUS. Os
gastos atuais com a folha de pagamento saltariam dos atuais R$ 49,7 bilhões
para R$ 99,3 bi.
A
questão que constitucionalmente deveria, mas não foi esclarecida pelo autor do
projeto, Senador Fabiano Contarato (REDE-ES) é: de onde sairão estes recursos? Como
o Ministério da Saúde, que tem um orçamento de R$ 166,22 bilhões para este ano,
conseguirá arcar com os aumentos dos salários da enfermagem, se só para as
entidades filantrópicas, o déficit de repasses pelos serviços prestados pelo
SUS é de 40%?
Como
essas instituições, que são responsáveis por 70% do atendimento de alta
complexidade no país, conseguirão manter as portas abertas? Onde irão trabalhar
os milhões de profissionais da enfermagem se elas fecharem as portas por falta
de recursos? Onde será atendida a população da maioria das pequenas cidades
brasileiras que contam apenas com Santas Casas e Hospitais Beneficentes
remunerados pelo SUS para ter acesso à saúde?
A
relatora do Projeto, Senadora Zenaide Maia (PROS-RN), também não encontrou uma
resposta e, em seu substitutivo ao texto original da matéria, deixou o problema
para o futuro. “...que a vigência dessas novas normas seja estabelecida
para o primeiro dia do exercício financeiro seguinte ao da publicação da lei
decorrente dessa proposta. Assim será possível encontrar os recursos e fazer os
ajustes necessários aos ditames da boa administração e da responsabilidade
fiscal.”
Ou os senadores que defendem a proposta têm uma solução mágica na manga
ou estão decretando o fim do SUS.