“COVID LONGA” E CÂNCER -

“COVID LONGA” E CÂNCER -
Dois anos depois do surgimento da Covid, 29,1 milhões de brasileiros já foram infectados e cerca de 1% ainda tem sequelas.

Quase cinco meses após contrair Covid, o servidor público Antônio Maciel, de 37 anos, diz que, depois da doença, sua disposição nunca mais foi a mesma. Faço musculação e corrida desde a juventude e sempre tive muita energia para me exercitar. Depois que contraí Covid, sinto que minha disposição diminuiu muito. Frequentemente, sinto-me extremamente cansado e com dores nas articulações”, conta.


Antônio faz parte de um grupo estimado de cerca de 3 milhões de brasileiros que teve a doença e, meses após se curarem, ainda têm algum tipo de sequelas, o que tem sido chamado de “Covid longa”. Segundo definição do Ministério da Saúde, o termo é usado quando a pessoa apresenta manifestações clínicas novas, recorrentes ou persistentes após a infecção aguda por SARS-CoV-2, e que não sejam atribuídas a outras causas.


E no caso de pessoas que tem ou tiveram câncer, a “Covid longa” pode ser pior? Conforme a Infectologista Priscila Paulin, do Hospital Amaral Carvalho (Jaú-SP), que é especializado em oncologia, em alguns casos sim. “O vírus se mostrou mais agressivo em idosos e pessoas com comorbidades. Como o câncer é relacionado ao envelhecimento e os pacientes oncológicos, em grande parte, são mais velhos e têm outras doenças, eles ficaram mais suscetíveis à contaminação e às sequelas de longa duração”, explica.


A médica lembra que casos de pacientes com sintomas que não desapareciam facilmente começaram a aparecer logo no início da pandemia. “Percebemos, principalmente, problemas neurológicos como esquecimento, estresse, depressão e falta de concentração. Os pacientes que já tinham problema pulmonar apresentavam mais fadiga e tosse e, naqueles em que a doença foi mais grave e que tiveram que tomar medicação mais forte, constatamos sequelas no sistema renal”, pontua. 


Pessoas que não têm ou não tiveram câncer também têm apresentado “Covid longa”, mas, no caso dos pacientes oncológicos, a atenção tem que ser maior, pois o sistema imunológico deles é mais frágil. O Hospital Amaral Carvalho, onde Dra. Priscila atua, é a entidade que mais faz transplantes de medula óssea na América Latina e, em alguns casos, foi constatado que, nos pacientes que fizeram ou estão esperando para fazer esse tipo de procedimento, o vírus fica no corpo por mais tempo. “Eles não podem receber a vacina, porque não tem sistema imune para desenvolver defesa. Não foi observado que eles tenham tido mais sequelas de Covid do que outros pacientes, mas eles ficam com a partícula viral por cerca de 20 ou 30 dias a mais, no nariz.”


Conforme a infectologista, há ainda outra preocupação em relação aos pacientes oncológicos. “Pode atrapalhar a adesão ao tratamento, no sentido de que o paciente terá mais uma questão para se incomodar, além da doença oncológica. A pessoa pode estar com muita tosse, por exemplo, e deixar de ir a uma consulta”. 


Dra. Priscila alerta para a necessidade de prevenção. “Pacientes que puderem devem concluir o esquema vacinal contra Covid e tomar a vacina contra a Influenza. Além disso, os familiares e pessoas do convívio direto também devem estar imunizadas”. E acrescenta que o paciente que teve Covid e está percebendo algo fora do normal, deve procurar um médico. “Precisa investigar se houve diabetes descompensada, deficiência de vitamina, se é preciso fazer reabilitação com fisioterapeuta ou atividade física, por exemplo”.


No final de fevereiro, o Ministério da Saúde liberou R$ 160 milhões para apoiar ações e serviços voltados ao cuidado às pessoas com “Covid longa’ na Atenção Primária, que é a principal porta de entrada do SUS, onde são atendidos 60% da população brasileira. Os recursos servirão para detecção de complicações, fornecimento de tratamento, contenção de situações adversas evitáveis e para articular o atendimento com a atenção especializada e a hospitalar.


09/Mar/22 - Acao Comunicativa
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